Eu ainda estou me perguntando o quê este filme está fazendo entre os indicados ao Oscar.
David O. Russel. Um dos diretores com maior destaque atualmente. Responsável pelo belíssimo "O Lado Bom da Vida" e sempre com seu elenco de primeira, a partir de agora, vira sinônimo de Oscar com seu bom - mas nem tanto - "Trapaça" : a prova de que atores conseguem salvar um filme da ruína e de que pra ser um indicado, talvez não precise ser tão bom assim.
Christian Bale vive Irving Rosenfeld, um golpista meio careca e muito barrigudo, que tem a sorte de conhecer a sexy Sydney Prosser (Amy Adams). Com a companhia dela, os negócios começam a decolar. Porém, quem está no topo acaba chamando a atenção, e chamou a do agente do FBI Richard DiMaso, que acaba por prender Sydney e acabar com o esquema do casal. Mas eles eram bons demais para serem desperdiçados. Começa então a grande aventura : DiMaso os obriga a entrar numa operação que consiste em flagrar políticos aceitando propina. Tudo fica grande demais, complicado demais, e com Rosalyn (Jennifer Lawrence), a esposa de Irving, tudo entra em colapso.
O roteiro se foca na falsidade. Todos são falsos de algum modo. Sydney finge sotaque britânico e vira Edith Greensly; Irving, que é careca, finge ter cabelo; Richard faz de tudo para que seu cabelo fique encaracolado, e não liso - além de esconder de todos sua noiva; e Rosalyn tenta esconder sua falta de juízo e de pensamento crítico. Cada um faz isso para que possa sobreviver no mundo criado por eles mesmos. Um mundo de papel, prestes a ser amassado e jogado fora. Em dado momento do filme, começa um discurso intenso sobre coragem. "Temos que ser audaciosos, corajosos". Irônico, já que, é exatamente isso que falta em "Trapaça" - mais coragem.
No longa anterior de O. Russel, ele brinca com a maluquice de seus personagens, criando um ambiente, uma conexão entre o público e eles. A trilha sonora composta para o filme, que quase não se ouve, quando toca dá ênfase a este ambiente conectivo. Neste novo longa-metragem não há quase nenhuma conexão entre os personagens e onde estão ou de onde vieram. Poucos detalhes fizeram grande diferença neste aspecto como, por exemplo, a caracterização e o fato de que os personagens narram suas vidas. Mas nada que concretize a 'ponte'. Estamos há quilômetros de distância de cada um deles.
Ao todo, são 10 indicações ao Oscar, 4 delas por atuações. Apenas 2 merecidas. Bale e Adams são os únicos que se sobressaem e alcançam o público. Já que Lawrence e Cooper tentam, mas são impedidos pelo o modo como o filme é dirigido. Ela tem um ótimo personagem, mas que desanda, e ele tem para si apenas o 'intruso na equação', quebrando os planos do casal no início e dando início à ação. Duas indicações que não consigo engolir. E se Jennifer Lawrence ganhar de Lupita Nyong' essa será a prova definitiva de que seu talento é completamente superestimado, já que esta sua indicação é a mais injusta da premiação este ano. Mas não quero dizer que são atuações ruins. O quê quero dizer é que, se fossem melhor conduzidas, algo muito melhor poderia ter saído dali. E se O. Russel não tivesse o elenco que teve, não sairia nada.
Pior que o antecessor em muitos aspectos, e pouco melhor em alguns, "Trapaça" parece ser o filme que menos merece estar entre os melhores do ano. Engraçado é que o longa lembra muito o quê Martin Scorsese costuma fazer, mas convenhamos que David O. Russel definitivamente não tem esse talento todo. Que no ano que vem, os velhinhos da Academia escolham filmes por sua qualidade, e não por afinidade.